Publicado em: 11 de dezembro de 2025

Logística internacional: custos, riscos e competitividade

Quando falamos em logística internacional hoje, não estamos mais tratando só de contêiner chegando e saindo do país. Estamos falando de uma camada que influencia diretamente margem, capital de giro, competitividade em novos mercados, risco regulatório e reputação da empresa. Mudanças recentes na logística internacional e cadeias globais de suprimentos mostram justamente esse novo papel: […]

logística internacional

Quando falamos em logística internacional hoje, não estamos mais tratando só de contêiner chegando e saindo do país. Estamos falando de uma camada que influencia diretamente margem, capital de giro, competitividade em novos mercados, risco regulatório e reputação da empresa.

Mudanças recentes na logística internacional e cadeias globais de suprimentos mostram justamente esse novo papel: a logística deixa de ser função de apoio e passa a ser vista como elemento central de vantagem competitiva em mercados globalizados.

Por isso, ao longo deste artigo, vamos olhar a logística internacional pela lente de cargos estratégicos: o que ela é, de fato, como o cenário global e regulatório molda decisões, quais são os componentes críticos dessa arquitetura e que tipo de pergunta a alta gestão deveria estar fazendo sobre esse tema.

O que é logística internacional

Logística internacional é o sistema que viabiliza o fluxo de materiais, produtos e informações entre países, conectando origem e destino por diferentes modais (marítimo, aéreo, rodoviário, ferroviário, cabotagem) e múltiplos operadores – armadores, companhias aéreas, transportadores, terminais, agentes de carga, recintos alfandegados e assim por diante.

Na prática, ela faz quatro coisas ao mesmo tempo:

  • Define prazos e variabilidade de entrega, influenciando diretamente o nível de serviço.
  • Impacta a formação de preço e a margem, principalmente via custos de frete, taxas e armazenagem.
  • Condiciona o nível de estoque necessário ao longo da cadeia, afetando capital de giro.
  • Expõe a empresa a riscos geopolíticos, regulatórios e operacionais.

Ou seja: logística internacional é a camada física e regulatória que sustenta a estratégia de sourcing global, manufatura distribuída, centros de distribuição regionais e expansão comercial.

Por que logística internacional virou tema de alta gestão

O contexto atual é de comércio global mais volátil, com choques em fretes, capacidade de transporte, demanda, oferta e ambiente geopolítico. A Organização Mundial do Comércio (OMC) projetou, por exemplo, uma retomada do comércio mundial de mercadorias em 2024 após queda em 2023, mas com forte ênfase nas incertezas trazidas por tensões regionais e mudanças na política comercial.

Ao mesmo tempo, o Banco Mundial, no Logistics Performance Index (LPI) 2023, reforça que a capacidade de transportar bens de forma rápida e confiável através de fronteiras é fator importante de competitividade. O índice mede países em questão de alfândega, infraestrutura, facilidade de embarques internacionais, competência logística, tracking e pontualidade.

Para empresas de grande porte, isso significa que:

  • logística internacional passa a influenciar diretamente o P&L;
  • entra na matriz de riscos corporativos;
  • condiciona decisões de investimento em plantas, centros de distribuição e entrada em novos mercados.

Não é mais uma linha de custo a ser negociada com o armador: é um sistema que precisa ser desenhado, monitorado e reconfigurado como parte da estratégia.

Os componentes críticos da logística internacional

Mesmo com modelos de negócio diferentes, algumas camadas aparecem em praticamente toda operação internacional relevante.

Desenho de rede e escolha de modais

Aqui estão decisões estruturais: de quais países comprar ou distribuir, quais portos e aeroportos usar como hubs, que combinações de modais fazem sentido por rota e onde posicionar estoques (origem, trânsito, destino). Essas escolhas definem o esqueleto do lead time e o quanto a empresa estará exposta a congestionamentos, greves, gargalos de infraestrutura ou eventos climáticos.

Uma rede desenhada apenas por custo de frete, sem olhar risco e resiliência, tende a ser barata em cenário estável e cara a qualquer mudança do ambiente.

Operação de transporte e terminais

A segunda camada é a operação em si: armadores, companhias aéreas, operadores rodoviários e ferroviários; terminais portuários, retroportuários e armazéns alfandegados; operações de transbordo, consolidação e desconsolidação.

É nessa interface que se materializam atrasos, demurrage e storage, custos de handling, avarias, rollovers, esperas em pátio, filas de atracação. Do ponto de vista da alta gestão, essa camada precisa ser vista não só como “tabela de frete”, mas como um conjunto de riscos e variáveis que se convertem em custo total e nível de serviço.

Documentação, aduana e compliance

A logística internacional cruza, inevitavelmente, a fronteira aduaneira. Isso envolve classificação fiscal (NCM), origem das mercadorias, regimes especiais, licenças e cumprimento de normas sanitárias, de segurança e técnicas.

No Brasil, essa dimensão é fortemente influenciada pela Receita Federal e por legislações específicas. Quando olhamos, por exemplo, para o ambiente portuário – peça central da exportação e importação –, a Lei nº 12.815/2013 (Lei dos Portos) define como a União explora portos e instalações portuárias e orienta concessões, arrendamentos e diretrizes de competitividade e eficiência.

Essa camada está diretamente associada a riscos de multa, atraso, apreensão de mercadoria e perda de previsibilidade. Erros de classificação, origem, tratamento de regimes ou cumprimento de exigências podem comprometer margens e acordos comerciais inteiros.

Visibilidade, monitoramento e gestão de risco

Com cadeias globais longas, “dirigir olhando pelo retrovisor” já não funciona. A empresa precisa combinar tracking, monitoramento de eventos de exceção (atrasos em porto, rollovers, mudanças de rota, eventos climáticos) e cenários de contingência viáveis.

Relatórios recentes do Banco Mundial sobre o LPI 2023 destacam justamente a importância da visibilidade para garantir resiliência e confiabilidade na logística transfronteiriça, especialmente em países em desenvolvimento.

Para cargos estratégicos, o desafio é transformar essa massa de dados em informações úteis: quais rotas são estruturalmente mais vulneráveis, quais portos ou terminais são mais críticos, quais parceiros logísticos têm melhor performance ajustada ao risco.

Como o ambiente global e regulatório entra na equação

Logística internacional não acontece no vácuo. Ela é atravessada por decisões de política comercial, acordos internacionais e regulações setoriais.

De um lado, a OMC projeta retomada modesta do comércio de mercadorias nos próximos anos, com crescimento em 2024 e 2025, mas alerta para o fato de que o comércio não deve se expandir muito acima do PIB global, limitando o espaço para estratégias puramente baseadas em exportações.

De outro, legislações como a própria Lei dos Portos, normativos aduaneiros e políticas de facilitação de comércio definem o quão fluido – ou travado – será o fluxo internacional. Para a alta gestão, isso implica avaliar não só custos logísticos, mas também a qualidade institucional dos corredores usados: portos, fronteiras, regimes especiais, operadores integrados.

Esses fatores têm impacto direto na escolha de rotas, modais, parceiros logísticos e na decisão de localizar plantas ou centros de distribuição em determinados países.

Tendências que estão redesenhando a logística internacional

Três grandes movimentos vêm pressionando empresas a reverem sua arquitetura de logística internacional.

O primeiro é a busca por resiliência. A sequência de disrupções recentes (crises sanitárias, choques de capacidade, conflitos regionais) expôs a fragilidade de cadeias altamente concentradas em poucos fornecedores, poucos países e poucas rotas. A discussão saiu do nível operacional e passou a envolver conselhos e comitês de risco.

O segundo é a digitalização da logística. Há um avanço consistente de plataformas que se tornaram cruciais para os profissionais da área. O que antes dependia de ligações e e-mails dispersos passa a ser consolidado em dados estruturados dentro desses sistemas.

O terceiro é a pressão regulatória e ESG. Reguladores, investidores e grandes clientes cobram mais transparência, menor pegada de carbono e maior controle sobre condições socioambientais ao longo da cadeia. Isso se conecta diretamente a decisões de rota, modal e parceiros, tornando a logística internacional parte da agenda de sustentabilidade e compliance.

O que cargos estratégicos deveriam estar perguntando sobre logística internacional

Quando a discussão sobe de nível, mudam as perguntas. Em vez de focar apenas em “quanto custa o frete desse contêiner”, passa a fazer mais sentido questionar:

  • Qual é o desenho atual da nossa rede internacional de abastecimento e distribuição e quão concentrados estamos em poucos portos, países ou modais?
  • Quanto da nossa margem está sendo consumido por custos logísticos que não aparecem na primeira linha da planilha (demurrage, storage, capital de giro, retrabalho, risco)?
  • Que grau de previsibilidade temos nos principais fluxos internacionais e quanta variabilidade o negócio tolera sem afetar nível de serviço e receita?
  • Quais são nossos planos de contingência se um porto, país ou corredor logístico-chave ficar comprometido?
  • Estamos usando dados históricos de embarques, lead times e performance de parceiros para simular cenários de rota, modal e origem, ou seguimos decidindo com base em histórico e percepção?

Essas perguntas conectam logística internacional diretamente a temas que já estão no radar do board: rentabilidade, crescimento, risco e reputação.

Logística internacional como arquitetura competitiva

Do ponto de vista de cargos estratégicos, olhar para logística internacional é olhar para a arquitetura de como o valor entra e se move pela empresa. Não basta negociar bem o próximo embarque se o desenho estrutural de rotas, parceiros, terminais e regimes aduaneiros não faz sentido frente ao nível de ambição do negócio.

Em um cenário de comércio global mais instável, infraestrutura pressionada e exigências regulatórias crescentes, as empresas que tratam logística internacional como arquitetura – e não apenas como execução – tendem a proteger melhor sua margem, ganhar previsibilidade e criar vantagem competitiva em mercados onde “entregar bem” virou parte primordial da proposta de valor.

O próximo passo, na prática, é ganhar clareza: mapear fluxos, identificar dependências críticas, entender o desempenho real de portos, parceiros e corredores, calcular o custo total (e não só o frete) e usar dados de operação como base para redesenhar rotas, contratos e modelos de atendimento. A partir daí, a discussão deixa de ser “logística como centro de custo” e passa a ser “logística internacional como uma das peças centrais da estratégia da empresa”.

Se hoje a sua logística internacional ainda é gerida embarque a embarque, sem uma visão clara de custo total, risco e dependências críticas, há valores importantes ficando na mesa. Dê o próximo passo mapeando os principais fluxos internacionais, rotas, portos e parceiros que sustentam o negócio e conectando isso aos dados reais de frete, prazos e ocorrências.

É hora de transformar essa visão em um modelo mais estratégico: fale com o time da Cargo Sapiens e descubra como podemos te ajudar a usar os dados da sua operação para redesenhar rotas, contratos e decisões logísticas com mais previsibilidade, margem e competitividade.

David Pinheiro

Especialista em Supply Chain com mais de uma década de experiência no mercado de logística. Atuando como CEO e fundador da Cargo Sapiens, ele lidera iniciativas inovadoras para transformar o setor, combinando conhecimento técnico com uma abordagem estratégica e centrada em resultados.

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