Publicado em: 4 de agosto de 2025

Tarifaço: o que realmente mudou para o Brasil após o decreto de Trump — e como se preparar

Em 30 de julho de 2025, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou um decreto que eleva em 40 p.p. as tarifas sobre produtos brasileiros, levando a alíquota total a 50%, com entrada em vigor em 6 de agosto de 2025. O texto, porém, veio acompanhado de uma lista de 694 exceções — e é […]

Em 30 de julho de 2025, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou um decreto que eleva em 40 p.p. as tarifas sobre produtos brasileiros, levando a alíquota total a 50%, com entrada em vigor em 6 de agosto de 2025. O texto, porém, veio acompanhado de uma lista de 694 exceções — e é aí que mora a diferença entre um “tarifaço” generalizado e um impacto setorial mais cirúrgico.

O que ficou de fora e por quê

Entre os itens isentos estão petróleo e derivados, gás natural, diversos minérios (como minério de ferro e estanho), fertilizantes, madeira, papel e celulose, metais básicos (ferro-gusa, ferroligas), prata e ouro, além de aeronaves civis, motores e peças (incluindo Embraer). A lista também contempla sucos/polpa de laranja e castanhas-do-Brasil, entre outros. O racional é econômico: são insumos e bens difíceis de substituir no curto prazo sem encarecer custos nos EUA.

Dado relevante: a Amcham Brasil estima que as exceções representam 43,4% das exportações brasileiras aos EUA (US$ 18,4 bi de um total de US$ 42,3 bi em 2024) — um alívio parcial, mas longe de eliminar o impacto para cadeias não contempladas.

Lista de produtos brasileiros que não receberão a tarifa adicional de 50%

  • Castanhas-do-brasil com casca, frescas ou secas
  • Polpa e sucos de laranja
  • Petróleo
  • Aviões e diversos artigos de uso aeronáutico, como pneus, motores, peças e turbinas
  • Mica bruta
  • Minério de ferro, aglomerado e não aglomerado
  • Minério de estanho e concentrados
  • Diversos tipos de carvão, linhito, turfa, coque, gás de carvão e outros derivados minerais
  • Gases naturais, propano, butano, etileno, propileno, butileno, butadieno
  • Matérias-primas de alumínio, silício, óxido de alumínio, potassa cáustica
  • Diversos produtos químicos, fertilizantes, cera, resíduos petrolíferos
  • Madeira, cortiça aglomerada, polpa química de madeira, polpa de algodão, polpa de fibras vegetais, celulose
  • Prata e ouro, na forma de lingote ou dore
  • Ferro-gusa, ligas de ferro, ferronióbio e outros produtos primários de ferro e aço
  • Linhas, tubos e conexões de uso industrial, vários tipos de metais, borracha e plásticos para aviação civil
  • Insumos para papel, papelão, celulose, artefatos de papel/papelão
  • Alguns tipos de pedras, fibras, crocidolita, amianto, misturas de fricção
  • Fertilizantes minerais e químicos de diversos tipos

Quem segue no alvo

Carnes, frutas e café não entraram na lista de isenções. Ainda assim, o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, sinalizou a possibilidade de tarifa zero para alimentos não produzidos internamente (como café, manga, abacaxi e cacau), a ser definida em regulamentação; seria uma regra geral, não específica ao Brasil.

O que muda na prática para exportadores brasileiros

  1. Risco de erosão de margem em segmentos sem isenção: Empresas com concorrência internacional direta tendem a absorver parte do custo tarifário para manter market share, pressionando margens.
  2. Menor choque para cadeias intensivas em insumo: Isenções em energia, minerais e químicos/fertilizantes evitam repasses amplos de custos em cadeias industriais e agrícolas nos EUA — o que ajuda a explicar a seleção dos itens poupados.
  3. Aeronáutico preservado: A relevância da Embraer no mercado regional dos EUA pesou para isentar aeronaves e componentes — não há substitutos óbvios de curto prazo para parte do portfólio.
  4. Cronograma: As tarifas passam a valer em 6 de agosto de 2025 (adiadas em relação à expectativa inicial de 1º de agosto), o que dá dias úteis para ajustes contratuais e logísticos.

O impacto agregado e seus limites

As exceções reduzem a abrangência do choque — mas não anulam os efeitos sobre cadeias fora da lista. Em setores com múltiplos fornecedores globais, a capacidade de repassar preço é limitada; a tendência é perda de competitividade onde houver substituição viável pelos importadores americanos.

O que fazer agora: plano de ação em 7 passos

  1. Mapeie NCM por NCM dos seus produtos/insumos contra a lista de 694 exceções e classifique risco por contrato/cliente.
  2. Reprecifique cenários (com/sem isenção) e renegocie INCOTERMS, reajustes e volumes com clientes nos EUA.
  3. Trave câmbio e frete quando fizer sentido: volatilidade tende a aumentar em períodos de redirecionamento de rotas.
  4. Revise originação de insumos: há casos em que mudanças de composição/origem podem enquadrar o produto final em exceções ou reduzir base tarifária.
  5. Priorize contratos críticos nos EUA e abra canais alternativos (Canadá/México/UE) para mitigar concentração de risco.
  6. Acompanhe possíveis desonerações para “não cultivados” (ex.: café, manga, cacau) e prepare dossiês de comprovação junto a importadores.
  7. Fortaleça governança e compliance: documentação de origem, classificação e regras de conteúdo são decisivas para usufruir isenções e evitar contingências.

Como a Cargo Sapiens ajuda

Na governança e compliance, é possível realizar auditoria por cotação/fornecedor, classificação NCM vinculada a documentos, alertas para mudanças regulatórias e rastreabilidade fim a fim.

Com um sourcing inteligente, as cotações SPOT e BID são realizadas com múltiplos operadores, simulação de landed cost e cenários por rota/INCOTERM.

Sua tomada de decisão se torna exponencialmente mais rápida, por meio de dashboards com impacto por cliente/produto e priorização de loads em rotas isentas.

Conheça agora a plataforma.

David Pinheiro

Especialista em Supply Chain com mais de uma década de experiência no mercado de logística. Atuando como CEO e fundador da Cargo Sapiens, ele lidera iniciativas inovadoras para transformar o setor, combinando conhecimento técnico com uma abordagem estratégica e centrada em resultados.

Inscreva-se na nossa Newsletter abaixo: